Permita-me um relato, em primeira pessoa, sobre o impacto do machismo na educação de nossas filhas.
Certo dia, eu estava a conversar com um grupo de pais e mães e comentei que estava assustada (não podemos perder esta capacidade) com o comentário de um senhor no parque de estacionamento de um supermercado. Alguém havia estacionado o carro extremamente torto, e ele gritava a plenos pulmões: “só pode ter sido uma gaja”.
Para minha surpresa, as mulheres do grupo logo falaram: “é isso mesmo, é muito comum isto aqui em Portugal, as mulheres estacionam mesmo mal”. Fiquei tão espantada com este machismo todo, vindo, justamente, de mulheres. Os homens que lá estavam não precisaram nem falar, pois elas trataram do assunto.
A questão é que conduzir bem ou mal é algo que nada tem a ver com ser mulher ou homem, como é óbvio. E este artigo não é sobre algo pessoal com relação a um grupo específico. Infelizmente, isto retrata muito da realidade que vivemos.
O impacto do machismo na educação de nossas filhas
Logo lembrei do resultado de uma pesquisa que acabara de ser divulgado por uma rádio (deveria ser, também, pela TV, páginas de notícias e outros mais diversos meios). Confesso que gostava de ter falado naquela conversa que não é um problema de Portugal, mas, sim, do mundo, e chama-se “machismo estrutural”, aquele tão enraizado que nem parece ser, mas é.
Voltando à pesquisa, ela dizia que meninos se achavam mais inteligentes do que eram de fato, e meninas consideravam-se menos inteligentes do que na verdade eram, refletindo-se este resultado em suas escolhas profissionais. Os meninos mais voltados para áreas como física e matemática, e as meninas para artes e português, por exemplo. As meninas, em geral, mostraram-se menos confiantes na solução de problemas complexos de física e matemática do que os meninos.
Este resultado nada diz sobre a capacidade destas meninas, mas, sim, sobre algo diretamente ligado a questões como autoestima e autoconfiança. E isto tudo tem a ver com a conversa mencionada no início deste artigo. Repetir, reforçar e validar estes tipos de discursos, como “só pode ter sido uma gaja” é dar voz e força a um ataque à autoestima de nossas filhas, além, é claro, de ser um desrespeito enorme. E não podemos normalizar a falta de respeito.
O impacto do machismo nas escolhas profissionais
Um outra pesquisa, conduzida pelo psicólogo da Universidade de Stanford, Claude Steele, mostrou os seguintes resultados. Foi pedido a alunos, homens e mulheres, que eram ótimos em matemática, para resolverem problemas tirados do exame de admissão à universidade. Este teste foi feito com dois grupos, com uma diferença. Ao primeiro foi dito que o teste normalmente revelava diferenças entre a capacidade de homens e mulheres. E ao segundo grupo não foi dito nada.
Os resultados das mulheres foi inferior no primeiro grupo (a quem havia sido dada a informação relativa à suposta diferença) com relação aos homens. As mulheres às quais não foi dito isso tiveram resultados equivalentes aos dos homens.
O professor Steele descobriu que o resultado estava relacionado diretamente a uma ansiedade debilitante desencadeada pelo “estereótipo ameaçador”, como ele bem define. Steele diz, ainda, que esta ameaça explica a razão pela qual as mulheres estão pouco representadas em áreas como engenharia, matemática e física. Nada tem a ver com capacidade, como algumas pessoas podem querer fazer crer, mas, sim, com a sociedade fazer com que as meninas duvidem desde sempre de seus talentos e aptidões.
Já passou da hora de mudarmos o discurso
É preciso parar de repetir estes absurdos como se fossem verdades, porque, apesar de tão ditos pelo senso comum, não passam de machismo, desrespeito, e só fazem com que as meninas cresçam e tornem-se mulheres que duvidam de si e de suas capacidades em casa e no trabalho. Sem falar do fato de que ficam mais suscetíveis à violência contra a mulher por crescerem com a ideia de que é normal serem inferiorizadas.
Portanto, em uma sociedade que ataca diariamente o senso de capacidade das mulheres, é fundamental que fortalecer a autoestima das nossas filhas seja uma preocupação nossa, de mães e pais.
Por Cristine Rocha
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